Carregando...

Notícias

B20 deixa legado para o país em 10 áreas estratégicas

Grupo de engajamento do setor privado apresentou agenda de prioridades nesta quinta-feira (5), em São Paulo

O B20, fórum internacional que reúne líderes empresariais do setor privado, apresentou sua agenda de legados para o país a partir da experiência brasileira na presidência do G20. O evento “Legado do B20 para o Brasil” ocorreu nesta quinta-feira (5), no escritório da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo, e teve como foco 10 temas considerados essenciais para o desenvolvimento inclusivo e sustentável do país. Participaram da cerimônia o chair e a sherpa do B20, Dan Ioschpe e Constanza Negri, e o presidente da CNI e do Conselho Consultivo do B20, Ricardo Alban.

O evento ocorre depois da decisão do G20 de incorporar integralmente 15 das 24 recomendações do setor privado à Declaração de Líderes da Cúpula do Rio de Janeiro. Além disso, o G20 considerou parcialmente sete recomendações. Apenas duas não foram mencionadas no documento final.

O presidente da CNI Ricardo Alban avaliou como muito positiva a experiência do G20 no Brasil.

“Foi um marco muito importante que proporcionou aprendizados e boas práticas para o setor privado, para governos e para a sociedade”, afirmou.

O “Legado do B20 para o Brasil” é o terceiro pilar da estratégia de legados do B20. O primeiro diz respeito às próximas edições, com o compromisso de aumento gradativo de participação feminina no fórum, chegando a 50% do total de integrantes até 2030.

O segundo inclui o lançamento de sete plataformas de monitoramento, voltados para a sociedade, em temáticas como IA, segurança alimentar e monitoramento de emissões de poluentes com vistas à transição para uma economia de baixo carbono.

Esses dois primeiros foram apresentados no último dia do B20 Summit Brasil, realizado em outubro, em São Paulo. Com a experiência colaborativa entre os países-membros em sintonia com as urgências mundiais que priorizam o crescimento sustentável, o B20 Brasil apresenta sugestões de compromisso do setor privado com o país.

Os 10 temas-chave para um crescimento inclusivo e sustentável
1) Biocombustíveis como solução de descarbonização no setor de transportes, com o Brasil em posição estratégica. Essa é uma área altamente relevante, tendo em vista que 13% das emissões nacionais são do setor de transporte (+200Mt CO2e em 2022). Há potencialidades fomentando o setor, como a Lei Combustível do Futuro e o Programa Mover; planos de mais de R$ 100 bilhões em investimentos privados anunciados para o setor, em face à necessidade de aumento do uso de novas aplicações e tecnologias que estimulem biocombustíveis. É preciso haver regulações e incentivos que estimulem novas tecnologias e ampliação do uso de biocombustíveis.

2) Descarbonização de cadeias industriais: a indústria brasileira já emite menos gases poluentes que seus pares globais, mas tem o desafio da descarbonização. São necessários mais de US$ 400 bilhões até 2050 para que a indústria nacional consiga superar esse gargalo.Há fontes de recursos, como R$ 10 bilhões ao ano via Fundo Clima e R$ 11 bilhões aprovados para captação de investimentos via BIP. Mas ainda é preciso ampliar a captação de capital privado via blended finance, implementar o mercado de carbono nacional e garantir credibilidade de créditos.

3) Mercado brasileiro de carbono: país cria as bases legais para mercado regulado e ainda pode alavancar potencial do mercado voluntário.
O Brasil já tem um mercado voluntário de carbono, mas o potencial nacional ainda é pouco explorado. Em nível global, crescem regulações para controle de emissões e 35% dos créditos de carbono globais em 2035 devem ser criados por NBS. No país, o potencial máximo de sequestro de carbono via reflorestamento é de 1,5 Gt ao ano. A janela de oportunidade chega a R$ 150 bilhões, movimentados no país pelo mercado no acumulado até 2030. Não se pode deixar de considerar que a COP29 aprova a operacionalização do mercado global de carbono (Art. 6.4 Acordo de Paris). É preciso promover regulamentações para efetividade do mercado regulado.

4) Economia circular: Brasil com ampla oportunidade de melhor explorar reciclagem e reduzir o desafio de resíduos. Apenas 4% do resíduo sólido reciclável brasileiro é reciclado; plásticos são 50% dos recicláveis secos, porém, parcela muito baixa é reciclada; 77 toneladas de resíduos sólidos urbanos foram produzidos em 2022. Há R$ 14 bilhões ao ano em perda econômica com resíduos não reciclados no país e a fração dos municípios brasileiros que oferecem coleta seletiva porta a porta é de 27%. É preciso implementar metas de reciclagem para setores com baixas taxas, como o de plásticos e fomentar projetos de infraestrutura para logística reversa, alavancando estrutura de catadores de materiais.

5) Agricultura sustentável pode conciliar potencial agrícola brasileiro com demanda por descarbonização. O Brasil é líder na exportação de commodities alimentares e pode absorver crescente demanda global alimentar (mais 50% até 2050). A agricultura sustentável concilia potencial agrícola brasileiro com demandas de descarbonização. Há oportunidades, como o Plano ABC+, que destina US$ 5,5 bilhões em 2023-24 (~1,5% do Plano Safra) e o Plano Nacional de Recuperação de Pastagens, que estipula meta de recuperação de pastagem de 40MHa em 10 anos. É preciso haver a promoção de ferramentas de financiamento misto, com uso de capital catalítico e o fortalecimento de regulações e políticas públicas para o setor.

6) Infraestrutura de resiliência: perspectiva de alteração climática exige prevenção de desastres e garantia de serviços básicos. O país tem baixa implementação em ações de prevenção a desastres: 51% das ações mapeadas pelo PNPDC2 não foram implementadas por limitações financeiras ou técnicas. A fração dos recursos nacionais destinados à prevenção de desastres realmente aplicados (2010 a 2023) foi de 65%; R$ 250 bilhões até 2026 disponibilizados pelo Novo PAC Brasil para serviços básicos e prevenção de desastres. Os municípios muitas vezes têm limitações técnicas para desenvolvimento de projetos. É preciso que haja definição de instrumentos de financiamento do planejamento de projetos pelos municípios.

7) Medidas restritivas a exportações: o Brasil perde participação no comércio mundial, enquanto medidas restritivas ao país aumentam. O cenário de mais restrições às exportações exige que o governo intensifique a diplomacia e empresas preparem suas cadeias de valor. O contexto geopolítico e a agenda climática criam oportunidade de maior participação do Brasil em cadeias globais de valor. É preciso apoiar a reforma do Sistema de Resolução de Controvérsias (OMC) e ampliar a diplomacia para remoção de barreiras e aceleração de negociações para novos acordos.

8) Igualdade de gênero: a maior diversidade é algo de extrema relevância para empresas, ainda assim a disparidade de gênero persiste no mercado de trabalho, exigindo esforços conjuntos de governos e setores privados. A participação de mulheres no mercado de trabalho representa 53%. A razão salarial de mulheres diretoras e gerentes para homens é de 79%. Promover um ambiente de trabalho justo e seguro, reforçando as ações contra assédio e discriminação e apoiar o período de retorno das mulheres após a licença maternidade (com jornadas flexíveis, salas de amamentação etc.), é essencial.

9) Data centers e IA: o Brasil tem a oportunidade de impulsionar a produtividade e se tornar um grande player no mercado de data center. A Inteligência Artificial (IA) vem crescendo em níveis exponenciais, aumentando a demanda energética. O mercado brasileiro tem alto potencial diante do seu parque renovável. Segundo o Goldman Sachs, a IA tem o potencial de aumentar o PIB global em 7% em um período de dez anos. Já a capacidade global de data centers esperada para 2028 é de 27 gigawatts.

10) Treinamento Digital: o desenvolvimento digital da população é habilitador para ganho de relevância internacional em TI. O Brasil tem uma população mais conectada do que a média global, mas ainda tem oportunidades para aprimorar habilidades digitais. Apenas 30% dos brasileiros têm habilidades digitais básicas. O país terá um déficit de 530 mil profissionais de tecnologia até 2025 e apenas 30% das empresas ofereceram treinamento em habilidades digitais nos últimos 12 meses. É preciso ampliar o acesso a computadores e internet nas escolas e capacitar docentes para habilidades digitais.

O evento “Legado B20 para o Brasil” foi organizado pelo secretariado do B20 Brasil, coordenado pela CNI, e teve o apoio do Boston Consulting Group (BCG) e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).