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De olho em novos modelos de negócios

Essa nova relação de trabalho foi batizada pelo jornalista Jeff Howe da revista americana Wired, como crowdsourcing – a união das palavras crowd (multidão) e outsourcing (terceirização).

O Airbnb, o Uber, e diversos aplicativos de táxi estão mudando a relação entre quem oferece serviços e quem consome. As empresas tradicionais com uma equipe de funcionários contratados dão lugar a uma nuvem de prestadores de serviços: profissionais autônomos ou pessoas com tempo ou espaços ociosos que querem ganhar dinheiro. 

Essa nova relação de trabalho foi batizada pelo jornalista Jeff Howe da revista americana Wired, como crowdsourcing – a união das palavras crowd (multidão) e outsourcing (terceirização). 

Essa nova forma de fazer negócios traz, de um lado, evidentes vantagens: praticidade e preços mais baixos para os consumidores. De outro, é amplamente criticada por profissionais especializados e tem gerado muitos protestos. 

Entre as polêmicas mais recentes está a proibição da Câmara Municipal de São Paulo ao uso de carros particulares cadastrados em aplicativos para transporte remunerado de pessoas. 

O alvo é, obviamente, o aplicativo Uber, que já provocou manifestação de motoristas de táxis no Brasil, protestos virulentos com queima de carros na França e rejeição em outras partes do mundo, sob a alegação de que se trata de concorrência desleal. 

“Os smartphones mudaram significativamente a forma que as pessoas se comunicam e contratam serviços. E apesar de algumas tentativas de frear esse avanço, acredito que a mudança provocada por esses novos modelos de negócio são caminho sem volta”, afirma Guilherme Bonifácio, CEO e co-fundador da Rapiddo e da Ifood. 

De olho nessas novas perspectivas, empreendedores brasileiros estão adaptando modelos de negócios baseados em crowdsourcing para novos setores.

SONTRA CARGO: UBER PARA OS CAMINHONEIROS 

Fazer entregas de cargas no Brasil não é uma tarefa fácil. Além de diversos obstáculos envolvendo distâncias, prazos e rodovias, os caminhoneiros reclamam constante de péssimas condições de trabalho e baixa remuneração. Mas e se eles mesmos pudessem negociar suas próprias exigências sem a intermediação de agentes de carga ou transportadoras?

Essa pergunta motivou a criação do aplicativo Sontra Cargo, que conecta diretamente caminhoneiros autônomos – que correspondem a 950 mil dos 2 milhões de caminhões que realizam operações de transportes no país – com as pessoas ou empresas que precisam de serviços de frete. 

 “Os usuários disponibilizam a carga e os caminhoneiros escolhem se querem ou não fazer a entrega. O processo é simples e dispensa intermediários”, diz Federico Vega, CEO da Sontra Cargo.  

O modelo de negócio da Sontra foi inspirado no aplicativo Uber, que conecta motoristas autônomos aos passageiros. 

Fundada em 2013, a Sontra Carga recebeu investimento de R$ 6 milhões do fundo de investimento do Valor Capital Group. Hoje, a plataforma tem 580 mil caminhoneiros cadastrados e, no último mês de maio, os valores dos fretes oferecidos no site somaram mais de R$ 11 milhões. 

 

RAPIDDO: DOS TÁXIS PARA AS MOTOS

O empreendedor Guilherme Bonifácio já acumulava muita experiência com startups e com a tecnologia de geolocalização quando se tornou CEO da Rapiddo, plataforma online de entregas expressas. Ele foi um dos fundadores da iFood, aplicativo de delivery de alimentos. 

Observando o setor em que atuava, percebeu que havia um mercado para ir além das entregas de alimentos. “Podíamos expandir para outras modalidades de transporte e utilizá-las para realizar entregas de documentos e encomendas”, afirma Bonifácio. 

O modelo de negócio é muito similar aos dos diversos aplicativos de táxi, como EasyTaxi e 99Taxis. O usuário se cadastra no site e informa dados sobre a entrega.  No passo seguinte, o sistema de geolocalização encontra um motoboy, ciclista ou motorista de van cadastrados no site que se encontram em locais próximos. A escolha do meio de transporte depende do tipo objeto que será transportado. 

Os motoristas são remunerados com 80% do valor do frete e restante fica com a empresa. “Assim como os aplicativos de táxi, essa é uma forma de colocar em contato direito os clientes e motoristas”, afirma Bonifácio. 

A startup começou a operar em abril de 2014 e hoje atua nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Campinas. Apesar de também atender pessoas físicas, os principais clientes são empresas, como escritórios de direito e pequenos e-commerces. A média é de 50 mil entregas mensais –  e a expectativa de crescimento é 30%  nos próximos mês. 

DOGHERO: O AIRBNB DOS CACHORROS

Para os donos de animais de estimação, viajar quase sempre é um problema. As opções são poucas: ou ficam em casa de parente e amigos ou encaminham vão com os bichanos para hotéis específicos. A última alternativa, por vezes, se torna uma grande decepção: as reclamações das hospedagens de cães são numerosas. Além disso, os bons hotéis costumam cobrar valores muito altos. 

Ao ouvir reclamações desse tipo, os empreendedores Eduardo Baer e Fernando Gabotti decidiram fundar, em agosto de 2014, a DogHero –  uma plataforma que conecta donos de animais com pessoas dispostas a hospedá-los durante determinado período. 

O negócio foi inspirado no Airbnb, o maior site de hospedagens do mundo. A plataforma reúne pessoas que têm casas, apartamentos ou quartos disponíveis e viajantes que procuram acomodações. Os preços são fixados pelos donos dos espaços e os usuários ajudam a classificar os melhores anfitriões. A empresa fica com uma porcentagem do valor da hospedagem. 

Na Doghero, esse modelo de negócios foi adaptado para mundo animal. “Temos um controle rigoroso de quem pode hospedar os cachorros. Procuramos pessoas que tenham afinidades com os animais, fazemos uma investigação nas redes sociais, entrevistas e checamos os antecedentes criminais dos candidatos”, afirma Baer. 

Em menos de um ano no mercado, a empresa já realizou cerca de 5 mil hospedagens e têm mais mil anfitriões ativos em sete capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Salvador. Para os próximos anos, os empreendedores querem levar o serviço para outras cidades.