Carregando...

Notícias

Câmbio e juro já não causam preocupação

Decisões imediatas do BC sobre câmbio e juros já não afetam mais as decisões de investimento estrangeiro

Autor: Alex RibeiroFonte: Valor Econômico

Por que o mercado financeiro doméstico anda tão nervoso com câmbio e juros? Essa é a pergunta mais ouvida pela delegação do Banco Central, chefiada pelo seu presidente, Henrique Meirelles, em reuniões com investidores de Wall Street. "Os estrangeiros já não estão mais preocupados com esses detalhes da política econômica, por isso estão muito curiosos com a alta temperatura no mercado brasileiro", diz uma fonte que acompanha as conversas.

 

Nos últimos dois dias, Meirelles manteve uma intensa agenda de encontro com banqueiros, fundos de investimento, analistas econômicos e agências de classificação de risco. Também integram a comitiva o diretor de política econômica do BC, Mario Mesquita, e o novo diretor de assuntos internacionais da instituição, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo.

As eleições presidenciais deste ano foram outro tema recorrente nas conversas. Sobre ele, a delegação do BC mais ouviu do que falou. "A avaliação geral é que, hoje, as instituições brasileiras, como o BC e os marcos da política fiscal, são bastante sólidas", afirma uma fonte. "Isso garante um processo sucessório bem tranquilo."

Dentro do Brasil, assinala a fonte, o momento exato em que o BC vai subir os juros, seja março, abril ou depois, vem sendo tratado como informação crucial para definir a sorte da economia nos próximos anos. Algo semelhante, acrescenta, ocorre com o câmbio. Ora os analistas defendem pesadas vendas de dólares para evitar depreciações mínimas, ora pregam compras agressivas para evitar maior valorização da taxa.

Esses assuntos, por enquanto, estão fora do radar dos investidores de Wall Street, mas os ruídos vindos do Brasil estão começando a chamar a atenção. "É como se o mercado financeiro brasileiro soubesse algo que Wall Street também deveria saber", diz a mesma fonte.

Num dos encontros, investidores fizeram perguntas diretas sobre câmbio e juros, segundo o relato de um dos seus participantes. Meirelles respondeu com uma outra questão: "Se o BC resolvesse fazer movimentos extremos nos juros neste ano, deixando de subi-los ou subindo demais, isso afetaria de alguma forma as suas decisões de investimento?" A resposta unânime entre os presentes foi que nada que o BC fizesse ou deixasse de fazer seria capaz de afetar suas decisões de investimentos. "Decisões imediatas do BC sobre câmbio e juros já não afetam mais as decisões de investimento estrangeiro", diz uma fonte que acompanha as conversas. "Isso é muito bom porque diz muito sobre a credibilidade da políticas econômicas do Brasil."

Um banqueiro especializado em vender papéis de empresas brasileiras concorda que, mesmo em um ano de eleições presidenciais, o tema macroeconômico desapareceu das conversas com investidores de Wall Street. "Uns anos atrás, quando eu ia vender o Brasil, sempre tinha que fazer uma didática e detalhada exposição sobre a macroeconomia", relata. "Agora, eles sabem que nossa política econômica está no caminho certo e pedem para a gente pular essa parte."

O BC disse aos seus interlocutores em Wall Street que a ansiedade do mercado doméstico se deve a uma combinação de fatores. Primeiro, o fato de parte dos investidores brasileiros terem montado posições de curto prazo no mercado financeiro, cujos ganhos estão diretamente ligados aos movimentos imediatos de juros e câmbio. Segundo, uma memória mais viva das crises vividas no país, que fazem o mercado doméstico acreditar que a próxima turbulência está muito próxima.

Já os investidores estrangeiros estão interessados na perspectiva de longo prazo do país. Diz pouco, afirma a fonte, se o BC vai subir os juros já ou daqui a pouco. O importante é qualidade da política monetária ao longo dos anos. As oscilações do câmbio também seriam secundárias, diante das perspectivas favoráveis de financiamento da conta corrente. O BC projeta para 2010 um déficit em transações correntes de US$ 40 bilhões, que será financiado com um ingresso esperado de US$ 45 bilhões em investimentos estrangeiros diretos. "Os investidores têm dito que as projeções do BC de ingressos de investimentos diretos são muito conservadoras", diz uma fonte que participa dos encontros.